12.07.2024

Diário de Bordo da Frau Cachaça - Parte II

Querida cachaceira, querido cachaceiro do meu coração,

Ainda estou percorrendo este Brasil delicioso afora!

Interrompi minha última Newsletter contando que havia encontrado um Airbnb super legal no icônico edifício Maletta em Belo Horizonte. O que eu não havia mencionado ainda é que Pedro Fajardo, isso mesmo, a conhecida voz que me acompanha no quadro DezEmCana do meu Podcast, e eu, dividimos o apartamento durante nossa estadia em Belo Horizonte. A gente preparou uma surpresinha pros ouvintes do Podcast e fomos gravar um especial de férias num estúdio. Então fica de olho nas redes sociais pra saber quando sairá o episódio!

A Expo Cachaça foi muito interessante. Algumas coisas que achei bem peculiares, como os shows de sertanejo que rolavam após as 20h. Tudo bem que eles colocam shows pra atrair o público, mas o problema é que isso dificulta imensamente na hora de fazer qualquer tipo de negociação, além de fomentar o consumo indevido e exacerbado de álcool durante feiras, o que me irrita profundamente, mas tudo bem. Legal e interessante foi também que pude comprar utensílios de bar feitos com cobre e também comer doces mineiros durante a feira.

Valeu demais a pena ter conhecido de perto os rostinhos que eram apenas familiares no Instagram! Rolou até encontro da Confraria das Mulheres, a Convida, da qual eu teoricamente faço parte mas nunca apareço. Mas diferente da primeira Expo Cachaça que visitei há 7 anos quando estava apenas começando, fui muito bem recebida por meus conterrâneos e colegas de trabalho.

Depois de uns dias regados a cachaça, torresmo e muita prosa, pegamos nosso rumo para Paraty, no Rio de Janeiro. Férias, enfim. Sério, minha profissão pode ser bem agradável e engraçada, mas a maratona de passeios e compromissos durante as duas últimas semanas acaba com qualquer pessoa.

Acontece que no meio do caminho decidi passar pela destilaria Século XVIII, em Coronel Xavier Chaves, que fica no coração da Estrada Real. E é lá, no Engenho Boa Vista, possivelmente o alambique mais antigo do Brasil ainda em atividade, que é produzida a branquinha mais raiz que eu já experimentei na vida.

A propriedade pertence a Rubens Chaves, um senhor simpático de 92 anos com o qual tive o prazer de conversar. O engenho foi construído há quase 300 anos pelo padre Domingos da Silva Xavier, irmão de Tiradentes, do qual o “Seu” Rubens é descendente.

O engenho mantém a produção artesanal de cachaça há oito gerações semelhante à do Brasil Colonial, que na época de Tiradentes abastecia minas de ouro em Minas Gerais e simbolizava a resistência contra Portugal. A água de um reservatório próximo é usada para girar uma roda d’água que até uns anos atrás operava os engenhos de moer cana e milho.

O mestre alambiqueiro ainda era seu filho até uns anos atrás, o famoso e simpático Nando Chaves, que agora passou o cetro para seus filhos, que trabalham no engenho da família. Nando também é produtor das cachaças Boa Vista e Santo Grau Coronel Xavier Chaves, e segue a receita familiar original, utilizando fermentação lenta com leveduras selvagens e fubá de milho. A principal mudança na produção atual é o uso de tonéis de inox em vez das antigas adegas de pedra, conforme normas do Ministério da Agricultura.

Agora, e se eu disse pra você que tive o grande prazer de pernoitar na casa da Família Chaves? Isso mesmo! Fui recebida no fim da noite por todos eles: Sr. Rubens, a esposa Cida Chaves (que é aliás escritora, jornalista, ex acessora de primeira dama e membro da Academia de Letras – ou seja, uma pessoa MARAVILHOSA), Nando e seus filhos. A própria residência é um museu a céu aberto. E foi lá, em meio a broas de milho, fogão a lenha e muita cachaça que ficamos proseando durante horas antes de cairmos na cama exaustos.

Um dia eu transformarei isso em conteúdo, pois é impossível escrever tudo o que eu aprendi sobre cachaça durante o tempo que eu passei com a família Chaves em Minas Gerais.

Depois de comer uma comida mineira bem gostosa, dirigimos durante 8h pela Estrada Real rumo a Paraty onde eu havia reservado um Airbnb. Foi um fracasso e infelizmente não era nada daquilo que havia sido prometido online e tivemos que buscar um novo lugar pra ficar.

Como isso também vai dar pano pra manga, decidi contar um outro dia o episódio para você. Conseguimos uma quarto super legal uma pousada em Paraty onde pudemos descansar um pouco e agora viemos para um outro lugar mais espaçoso. Sério, preciso descansar.

Mas antes, fica uma ameaça. Vai ter um terceiro Diário de Bordo pra você ler, pois antes de ir embora ainda visitarei alguns alambiques.

Mas até lá, grande beijo etílico da Frau Cachaça!

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