Cachaceiro(a) do meu coração,
Quem está me acompanhando por aqui há um tempo sabe que em janeiro eu decidi reciclar meus conhecimentos de Sommelière de vinho após 12 anos de formação.
Com os anos eu aprendi que tempo e conhecimento são super preciosos e que, quando são bem administrados, podem se tornar grandes aliados ao longo da nossa vida. Por isso é importante tomar conta deles com muito carinho e tentar estar sempre atualizado na profissão pode às vezes fazer uma baita diferença na carreira de uma pessoa.
Com o curso chegando ao fim, eu me vi tendo que entregar um trabalho de conclusão de curso bem interessante: desenvolver uma carta de vinhos com, no mínimo, 100 posições.
O que parecia ser uma tarefa bem básica acabou se tornando um grande desafio. Escrever uma carta de vinhos desse tamanho dá muito trabalho e eu, com certeza, subestimei a dimensão da coisa e acabei me descabelando pra entregar o trabalho a tempo.
Uma carta de bebida é algo a ser levado a sério. Não se trata somente de uma mera “lista” de posições. Os vinhos tem que ser divididos por região, denominação de origem ou indicação geográfica, tipo de casta, teor alcóolico, etc… Além disso, uma das exigências da professora era adicionar extras à carta. Ou seja, você basicamente precisa inventar um restaurante fictício com logo, menu, cálculo correto dos preços, etc…
O interessante é que em duas semanas eu terei uma prova escrita de 4 horas de duração, uma prova oral e uma prova de serviço de mesa. A prova oral consiste não somente em perguntas sobre a matéria da prova (ou seja, qualquer coisa sobre bebidas em geral, incluindo bebidas sem álcool!), mas também numa coisa muito curiosa: a professora entrega um Menu qualquer para cada um de nós e nós temos que recomendar vinhos e ou alternativas que colocamos na nossa lista que combinem com os pratos do menu. Ou seja, é melhor você não ter copiado essa lista de ninguém e é melhor que você tenha colocado opções para qualquer tipo de cliente, inclusive veganos. Chupa essa.
O motivo de eu estar escrevendo tudo isso pra vocês não é pra encher o meu ego. Hoje, eu proponho uma reflexão:
Por quê não levamos a Cachaça tão a sério a ponto de propormos uma educação como essa?
Por quê na maioria dos restaurantes e bares ainda não há uma carta de cachaça como há cartas de Gins e Whisk(e)ys por aí?
Por quê muitas instituições insistem que o conhecimento seja algo decoreba e não exigem que seus alunos trabalhem de uma maneira mais prática?
Infelizmente um dos pré-requisitos era não incluirmos destilados à carta de vinhos, o que me deixou bem triste. Na minha cabeça eu desenvolvi um bistrô chamado Poldi, em homenagem a Arquiduquesa austríaca Leopoldina que saiu daqui de Viena e se tornou a esposa de Dom Pedro I. Ela foi a protagonista da nossa independência e criou nossa primeira bandeira do Brasil. Era muito amada.
Aliás, lembra daquela escola de samba, a Imperatriz Leopoldinense? Então…
“Poldi” conta, com uma culinária brasileira elevada (obrigada, Kias, por ter me disponibilizado o menu do seu restaurante), acompanhada de vinhos austríacos e teria, com certeza, uma carta de cachaça a altura também.
Aliás, se eu tivesse um bar ou restaurante…
Beijos etílicos!