Esta semana eu gostaria de fazer uma reflexão na minha newsletter. Está na hora de falarmos sobre preconceito.
Uns dias atrás, um político austríaco de um partido de centro-direita deixou todo mundo de cabelo em pé aqui na Áustria por causa de um comentário.
Ele decidiu fazer um passeio por uma feira em um determinado bairro e decidiu compartilhar suas impressões nas redes sociais. Este bairro é conhecido ser cheio de estudantes, um povo mais alternativo e também pelo seu alto número de imigrantes. Eu, aliás, adoro esse mercado pois é lá que posso encontrar produtos inesperados nas prateleiras de mercados austríacos, como baklava e queijo búlgaro. É um mercado muito colorido, cheio de vida, na rua. De quebra você faz boas compras por pouco dinheiro.
Durante um passeio pela feira, o político desabafou:
Então, começa a comentar sobre como muitas das barracas na feira estão “dominadas” por imigrantes – e especifica: sírios, afegãos, árabes. Não se contentando com tanto rebosteio, ele expressou seu descontentamento com um senhor sírio que tinha cinco barracas no mesmo mercado, como se isso fosse um crime. O senhorzinho estava lá trabalhando. Não estava roubando nem pedindo esmola.
Ele não se incomoda com imigrantes italianos ou com os alemães, por exemplo. Apenas com os sírios, afegãos e árabes.
Então eu li uma reflexão de uma pessoa e até compartilhei nos meus stories:
“Como imigrante, você sempre perde. Se você chega, aprende o idioma, se integra na sociedade e mesmo assim não consegue trabalho, você é um ladrão por que vive de ajuda do governo. De um dinheiro vindo do imposto que esses austríacos pagam. Ou seja, eles dizem que bancam você pra você ficar em casa não fazendo nada. Se você tem sorte o suficiente e trabalha, você é considerado um ladrão por quê você está “roubando” a vaga de trabalho de um austríaco”.
O que isso tem a ver comigo, com a Frau Cachaça? Eu sou imigrante. Eu sou empreendedora. E eu realmente sinto que eu vivo entre dois mundos, nem lá nem cá. E mesmo tendo me integrado na sociedade austríaca, falar alemão fluentemente e ter criado raízes aqui (e pagando muito imposto!) eu ainda sou tratada dessa maneira, mesmo que não tão explícita pela minha cor.
Até quando as pessoas serão julgadas por trabalhar? Pela sua etnia? Fica a reflexão…