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12.04.2024

Cachaça é cultura

Cachaceira(o) do meu coração,

Na última sexta-feira, tive o privilégio de ministrar um evento super especial: uma degustação de cachaça promovida pela Embaixada do Brasil em Viena. Em meio a um ambiente de camaradagem e intercâmbio cultural, mergulhamos nas ricas tradições da cachaça, o icônico destilado brasileiro.

Meu marido foi para me ajudar e, enquanto eu guiava o público de 60 pessoas – a maioria deles diplomatas – juntos fomos desvendando as nuances aromáticas únicas da caninha. De madeiras nobres a processos de produção tradicionais (e industriais!), cada garrafa contava uma história cativante sobre a riqueza da cultura brasileira.

Além disso, ao final do evento – que foi seguido por uma degustação de vinhos da vinícola onde estava sendo apresentado o evento (aliás, a vinícola mais antiga do país, com 900 anos de idade!), servi um coquetel de assinatura que continha duas das cachaças degustadas durante o workshop.

Foi uma verdadeira celebração da diplomacia através do paladar. hehehe Gostou do trocadilho?

Gostaria de agradecer imensamente a Embaixada do Brasil em Viena por ter me proporcionado essa experiência maravilhosa e única. Não é a primeira vez que me contratam para um projeto, porém é sempre um prazer poder compartilhar um pouquinho da cultura brasileira com as demais pessoas através do meu olhar cachaceiro.

Que esse evento tenha servido como um elo fortalecedor entre as nações presentes! Um brinde à cachaça, à diplomacia e à diversidade cultural!

Vou deixar aqui pra quem quiser ver o Reel do evento em Klosterneuburg e o artigo que saiu no Jornal Cercle Diplomatique a respeito do evento.

Beijos etílicos,

05.04.2024

Que tal uma carta de cachaça?

Cachaceiro(a) do meu coração, 

Quem está me acompanhando por aqui há um tempo sabe que em janeiro eu decidi reciclar meus conhecimentos de Sommelière de vinho após 12 anos de formação. 

Com os anos eu aprendi que tempo e conhecimento são super preciosos e que, quando são bem administrados, podem se tornar grandes aliados ao longo da nossa vida. Por isso é importante tomar conta deles com muito carinho e tentar estar sempre atualizado na profissão pode às vezes fazer uma baita diferença na carreira de uma pessoa. 

Com o curso chegando ao fim, eu me vi tendo que entregar um trabalho de conclusão de curso bem interessante: desenvolver uma carta de vinhos com, no mínimo, 100 posições.

O que parecia ser uma tarefa bem básica acabou se tornando um grande desafio. Escrever uma carta de vinhos desse tamanho dá  muito trabalho e eu, com certeza, subestimei a dimensão da coisa e acabei me descabelando pra entregar o trabalho a tempo.

Uma carta de bebida é algo a ser levado a sério. Não se trata somente de uma mera “lista” de posições. Os vinhos tem que ser divididos por região, denominação de origem ou indicação geográfica, tipo de casta, teor alcóolico, etc… Além disso, uma das exigências da professora era adicionar extras à carta. Ou seja, você basicamente precisa inventar um restaurante fictício com logo, menu, cálculo correto dos preços, etc…

O interessante é que em duas semanas eu terei uma prova escrita de 4 horas de duração, uma prova oral e uma prova de serviço de mesa. A prova oral consiste não somente em perguntas sobre a matéria da prova (ou seja, qualquer coisa sobre bebidas em geral, incluindo bebidas sem álcool!), mas também numa coisa muito curiosa: a professora entrega um Menu qualquer para cada um de nós e nós temos que recomendar vinhos e ou alternativas que colocamos na nossa lista que combinem com os pratos do menu. Ou seja, é melhor você não ter copiado essa lista de ninguém e é melhor que você tenha colocado opções para qualquer tipo de cliente, inclusive veganos. Chupa essa.

O motivo de eu estar escrevendo tudo isso pra vocês não é pra encher o meu ego. Hoje, eu proponho uma reflexão:
Por quê não levamos a Cachaça tão a sério a ponto de propormos uma educação como essa?
Por quê na maioria dos restaurantes e bares ainda não há uma carta de cachaça como há cartas de Gins e Whisk(e)ys por aí?
Por quê muitas instituições insistem que o conhecimento seja algo decoreba e não exigem que seus alunos trabalhem de uma maneira mais prática?

Infelizmente um dos pré-requisitos era não incluirmos destilados à carta de vinhos, o que me deixou bem triste. Na minha cabeça eu desenvolvi um bistrô chamado Poldi, em homenagem a Arquiduquesa austríaca Leopoldina que saiu daqui de Viena e se tornou a esposa de Dom Pedro I. Ela foi a protagonista da nossa independência e criou nossa primeira bandeira do Brasil. Era muito amada.

Aliás, lembra daquela escola de samba, a Imperatriz Leopoldinense? Então…

“Poldi” conta, com uma culinária brasileira elevada (obrigada, Kias, por ter me disponibilizado o menu do seu restaurante), acompanhada de vinhos austríacos e teria, com certeza, uma carta de cachaça a altura também. 

Aliás, se eu tivesse um bar ou restaurante…

Beijos etílicos!

29.03.2024

O que a Sexta-Feira Santa tem a ver com a cachaça?

Cachaceiro(a) do meu coração,

Hoje é Sexta-Feira Santa e eu resolvi trazer uma curiosidade cachaceira pra você: você já ouviu falar do “Fecha Corpo”?

Fecha corpo é um ritual que se iniciou no interior de São Paulo, mais precisamente em Monte Alegre do Sul, após o então jovem José de Oliveira Valente chamar uma benzedeira, pois se sentia muito doente. A benzedeira, Benedita, lhe disse que ele estava sofrendo de mal-olhado e recomendou que bebesse, em jejum, uma mistura de cachaça com arruda e guiné todas as Sextas-Feiras Santas pelo resto de sua vida para que se protegesse. E assim ele fez, curando-se do mal. “Seu” Zezé morreu aos 90 anos, porém sua família continua a tradição até hoje.

O Mapa da Cachaça publicou um artigo essa semana com a receita, que eu gostaria de compartilhar com você aqui!

Fecha Corpo - Por Mapa da Cachaça

Punhado Guiné

Punhado Arruda

750 ml Cachaça Pura

Modo de preparo:

Colocar um punhado fresco de arruda e alguns pedaços de raiz de guiné, lavados, numa garrafa  e cobrir com a cachaça pura.

Depois é só tampar e aguardar por pelo menos 1 hora.

“A única orientação é que as ervas sejam frescas e tenham sido colhidas no primeiro orvalho da Sexta-Feira Santa, ou seja, na madrugada. Depois de algumas horas de descanso, a bebida está pronta para o consumo.

Segundo a tradição, um gole em jejum pela manhã seria o suficiente para garantir proteção contra doenças físicas e espirituais por um ano, até o próximo feriado santo da Paixão. Pelo menos, é o que reza a superstição. Em todos esses anos a prática foi sendo incrementada. Os mais desconfiados preferem repetir a medida, mas nunca em número par. Nesse caso, dizem que as doses devem ser ímpares para garantir a sorte.

No acompanhamento da bebida – e uma tentativa de aplacar o gosto forte e amargo que poucos achariam agradável logo pela manhã – um pão com alichela (famoso antepasto da culinária italiana) também é oferecido. Dentro da tradição católica, a Sexta-Feira Santa é um dia dedicado à abstinência de carne vermelha, por isso o peixe ajuda a forrar o estômago vazio”. (leia mais sobre o Fecha corpo aqui!)

Bom, eu não sei você, mas eu não poderei colher guiné fresca aqui na Áustria, porém me proponho a fazer essa infusão com bastante arruda e a “fechar meu corpo” da maneira possível. Se você mora em São Paulo ou tiver a oportunidade de visitar algum alambique e fazer parte desse ritual histórico, eu super recomendo. Além de não fazer mal, você ainda apoia o turismo regional! Boa, né?

Beijos etílicos da Frau Cachaça e Feliz Páscoa pra vocês!

22.03.2024

Cachaça combina com…

Cachaceiro(a) do meu coração,

Sentiu minha falta semana passada? Pois é, eu estou super envolvida em um tanto de projeto que não consegui escrever a newsletter semanal. E eu estava tão ansiosa pra contar como foi minha semana…

Segunda-feira passada eu tive uma experiência sensorial totalmente inusitada. Eu fui convidada para um Workshop de Charutos! Olha só que legal…

Depois de 12 anos que me formei Sommelière de vinhos eu decidi que estava na hora de voltar a estudar um pouco e me matriculei para um curso que começou em janeiro. Tive a sorte de me tornar aluna do Diretor da Associação de Sommeliers da Áustria antes que ele se aposentasse de vez e, como tal, sou convidada, assim como meus colegas de curso, para degustações e Workshops que a Associação organiza.

Apesar de não ser fumante, eu decidi ir mesmo assim. Afinal, nessa profissão a gente tem que estar apta a degustar qualquer coisa de modo subjetivo, ou seja, independente se você gostar daquilo ou não. Imparcialidade é tudo.

Acontece que o Workshop foi ótimo: aprendi muita coisa sobre o tabaco em si, etiqueta “de mesa” na hora de acender charuto e harmonizamos charuto com tudo: desde espumantes, vinhos brancos e tintos – tanto leves quanto encorpados, vinhos generosos como o do Porto e alguns tipos de destilados, como whisky, cognac, rum, etc. E é claro que eu não perdi a oportunidade de levar umas cachaças comigo.

E pra quê isso? Bem, tenho muitos clientes austríacos que fumam charuto e gostam de beber rum. Eu percebi há muito tempo já que o que eu vendo é lifestyle, ou seja, estilo de vida, e charuto atinge esse nicho: quem fuma um belo charuto cubado saberá apreciar uma boa cachaça. Aliás, uma cachaça bem encorpada e com bastante madeira, ou seja, um produto premium ou com maior valor agregado.

Apesar do forte cheiro de tabaco que demorou uma semana para sair do meu cabelo, saí do Workshop muito contente por ter aprendido um tanto de coisa legal. Além de tudo, fiz networking com um grupo maravilhoso de profissionais experientes na área e distribuí muitos cartões de visita. O evento já me rendeu mais duas degustações e ainda de quebra vendi cachaça para o Diretor, meu professor. De quebra, eu fui A ÚNICA entre 20 sommeliers que reconheceu a Cava que foi servida de entrada, para a alegria do meu Professor hehehehe (e da minha!)

Enfim, deixo aqui com vocês uma receita de coquetel que aprendi há uns anos durante um curso que fiz na ProDrinks em São Paulo, o Cohiba*:

Cohiba - por Frau Cachaça

30 ml de cachaça envelhecida no carvalho

30 ml de Vinho do Porto (de preferência um Tawny 30 anos)

3 dashes de Angostura bitter

30 ml de suco de cereja

1 canela em pau

1 zest de laranja

Gelo


Modo de preparo:

Coloque o gelo em um copo de whisky. Adicione o suco de cereja, o Pedro Ximenez e a cachaça. Então, adicione os 3 dashes de Angostura e mexa. Pronto! Agora basta colocar a canela em pau e o zest de laranja.

*Este coquetel é um twist, ou seja, uma versão abrasileirada do coquetel original Cohiba, ok?

Se você reproduzir o coquetel, não esqueça de postar e me marcar!

Beijos etílicos.

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